25 nov, 2022
O Brasil
encerrou a safra de milho 2021/22 com uma produção em torno de 113 milhões de
toneladas, sendo quase 30% maior do que o ciclo anterior. Essa diferença tão
grande aconteceu, principalmente, porque na safra 2020/21 os produtores
passaram por diversos problemas, especialmente relacionados ao clima. Segundo o
professor e doutor, Marcos Fava Neves, especialista Agro na CNN e um dos
palestrantes do recente Encontro Técnico Milho, realizado pela Fundação MT, a
seca afetou muito as áreas do grão na segunda safra, com geadas no final do
ciclo, o que foi diferente em 2021/22.
Para ele,
esse crescimento chegou em um momento oportuno quando se olha para o mercado
internacional, principalmente por dois fatores: o primeiro, a guerra entre
Rússia e Ucrânia, que é um player no setor, grande exportador de milho. Eles
deixaram de exportar um volume significativo nesse ano, essa demanda global que
já estava aquecida foi suprida em boa parte pelas exportações brasileiras.
Entre
janeiro e outubro de 2022, o Brasil enviou para fora 32 milhões de toneladas de
milho, isso é mais do que o dobro exportado no mesmo período do ano passado,
que foi em torno de 15 milhões de toneladas. O volume, de acordo com o
especialista, está relacionado à elevada demanda global e também à quantidade
de milho disponível por aqui, que foi maior.
Como
consequência de problemas de ofertas em importantes players, existe uma queda
nos estoques globais do milho, o que trouxe, conforme o professor, muitas
oportunidades para os produtores, já que os preços do cereal ficaram em bons
níveis para quem está no campo no Brasil. No cenário internacional não foi negativo,
mas é importante destacar a segurança alimentar, já que esse “gap” de oferta
pode gerar pendências para outras cadeias produtivas quando se fala em
suprimentos.
Próxima
safra
Para a
safra 2022/23, a expectativa é bem positiva. No Brasil, a Conab está estimando
cerca de 126 milhões de toneladas de milho, com crescimento de 12% em relação à 2021/22. É necessário ainda acompanhar
o plantio de soja, já que 75% do cereal é plantado em segunda safra, ou seja,
se a soja for bem, se ela for semeada mais cedo, colhida mais cedo, é possível
plantar o milho antes e aproveitar melhor a janela para cultivo do cereal.
Contudo,
conforme aponta o professor, é difícil fazer uma previsão exata, mas ele espera
que a situação da guerra se normalize e que o Brasil tenha a oportunidade de
continuar abrindo novos mercados. Já que essa é a vocação brasileira, um dos
poucos países que têm a capacidade de produzir volume excedente para poder
exportar e contribuir de fato com um fornecimento sustentável de alimentos. Ele
salienta que a tendência é que o Brasil, nos próximos anos, amplie bastante a
sua participação no mercado global.
E em Mato
Grosso, como fica?
Mato
Grosso é o principal produtor de milho do Brasil, para a safra 2022/23 tem 31%
da área total e a estimativa é de cerca de 35% da produção, ou seja,
corresponde a mais de um terço do total. Fava diz que se olharmos as áreas de
primeira safra, o estado planta um número muito pequeno de milho,
predominantemente o plantio é da soja verão, mas que muitas áreas que ainda não
são utilizadas para o plantio do cereal na segunda safra estão sendo
convertidas. Ou seja, há crescimento nos últimos anos, sendo uma região com muita
oportunidade ainda para a cultura.
Na safra
2018/19 haviam 4,9 milhões de hectares plantados de milho em Mato Grosso, para
a próxima a expectativa é de quase 7 milhões de hectares. Isso exemplifica
exatamente o mencionado acima, e que esse aumento significativo está vindo
principalmente de áreas que antes não eram utilizadas e que ficavam em pousio
depois do plantio da soja.
Perspectivas
O estado
de MT possui muitas perspectivas para o cereal. O etanol de milho é apontado
pelo professor Fava como um setor que tem se destacado. A tendência é que a
produção chegue a dez bilhões de litros, até 2031. Ele analisa que isso deverá
representar um terço do volume nacional e que é uma tendência, uma
matéria-prima que nem era utilizada no Brasil passando para a produção de
biocombustível, transformando-se em uma fonte complementar muito importante.
Existem também dois gargalos: a logística e o
armazenamento. O especialista avalia que há evolução nisso, obras em andamento,
mas que ainda há dificuldades relevantes e que é preciso melhorar.