25 ago, 2022
A segunda safra de algodão 21/22 de Mato Grosso foi marcada por
condições climáticas que trouxeram impacto significativo no desenvolvimento
vegetativo, na produção e na qualidade da fibra. Com o fim da colheita próximo,
é possível afirmar que houve queda nas produtividades finais, que em algumas
regiões chega a 30%. São resultados dos efeitos causados pelo excesso de chuva
no início da semeadura e término das precipitações ainda no mês de abril. Os
desafios do ciclo e sua retrospectiva será um dos momentos do XIV Encontro
Técnico Algodão, no dia 30 de agosto, segundo dia do evento.
Para contribuir, foram convidados profissionais que atuam em instituições e grupos agrícolas que cultivam algodão nas principais regiões produtoras de Mato Grosso e também da Bahia. Confira, a seguir, uma prévia de alguns aspectos importantes da safra e as medidas tomadas para minimizar os problemas da temporada.
Sobre
Mato Grosso
Márcio Souza, coordenador de Projetos e Difusão de
Tecnologias do Imamt - Instituto Mato-grossense do Algodão, será o moderador da
retrospectiva. Ele comenta que o algodão segunda safra no Estado foi semeado na
época adequada, sendo em torno de 80% em janeiro e o restante em fevereiro. O
corte das chuvas ocorreu, de maneira geral, entre 18 e 22 de março. Em abril,
algumas regiões ainda puderam contar com precipitações, mas em maio
pouquíssimas áreas tiveram chuvas. “Então esse algodão de segunda safra,
plantado após 20 de janeiro, sofreu muito, não conseguiu ter boa formação do
terço médio superior e ponteiro. Quanto mais tarde foi plantado, pior foi a
produtividade. Nas regiões de Sapezal, Campo Novo do Parecis, Deciolândia e
Diamantino, isso foi bem evidente”, completa.
Outro ponto de destaque, segundo o coordenador, foi o excesso
de chuva que ocorreu em todo o mês de fevereiro e parte de março. “O
encharcamento favoreceu raízes superficiais e a morte de algumas delas pela
falta de oxigenação do solo, causada pela alta umidade, então quando a chuva
cessou as plantas até começaram a se desenvolver, mas isso ainda assim nos
prejudicou”, explica.
Para ele, o problema central da segunda safra de algodão se
resume em dois estresses hídricos: o encharcamento e a falta de chuva. “Em
algumas regiões que não choveram, a queda de produtividade chega a 30%. Em
Campo Novo do Parecis e Sapezal, esses problemas climáticos atingiram quase 50%
da área de produção de segunda safra, então, de maneira geral, vai cair muito a
produtividade”, comenta.
Márcio ressalta que as boas práticas agrícolas são a
principal ferramenta para que o produtor não fique tão dependente das
intempéries. E defende também uma janela mais curta entre a primeira safra de
soja e segunda safra com algodão para que possíveis problemas climáticos sejam
melhor enfrentados. “Para isso, é muito importante a estrutura do produtor em
termos de plantio e colheita da soja na janela ideal, com a escolha de
variedades precoces para também estabelecer o algodão na melhor época”, pontua.
Região Médio Norte de MT, na extensão da BR 163
O engenheiro agrônomo Fernando Piccinini, coordenador técnico
regional do Grupo Bom Jesus, relata que, apesar das condições climáticas terem
possibilitado o plantio mais cedo nessa região de Mato Grosso, entre 5 a 23 de
janeiro, a expectativa de um ótimo ciclo foi afetada pela falta de chuva a
partir do mês de abril. As estratégias de manejo utilizadas, como o uso
adequado de regulador de crescimento e manejo de adubação, foram fundamentais
para a antecipação da definição do potencial produtivo. “Foram essenciais para
que nossas médias de produtividade, ainda que um pouco abaixo do esperado,
ficassem acima de outras regiões do Estado que também sofreram com a paralisação
das chuvas”, destaca.
Em sua apresentação, o profissional também vai falar sobre as
cultivares de algodão utilizadas pelo Grupo, com ciclos médio e tardio, suas
características, o comportamento das variedades na situação climática
vivenciada, bem como os resultados de produtividade e de qualidade de fibra. O
manejo de doenças, pragas e plantas daninhas adotado será mais um ponto de
destaque, com o relato do que deu certo no controle desses problemas.
Bahia
O produtor rural Paulo Schmidt, que cultiva algodão no oeste
baiano, relata que no início da safra de algodão, que na Bahia ocorre em
dezembro, as lavouras ficaram embaixo d´água. O encharcamento prejudicou o
enraizamento das plantas, que logo em seguida precisaram enfrentar a seca, pois
as chuvas que deveriam continuar até março ou abril encerraram já em fevereiro.
O produtor também chama a atenção para o aumento
significativo da pressão de nematoides nas lavouras de algodão, segundo ele,
favorecida pelo excesso de chuva no início do ciclo. “Tiveram condições
favoráveis para se estabeleceram bem no início”, comenta.
Números
De acordo com a Associação
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Mato Grosso cultivou
1.185.733,72 hectares da cultura em 21/22, sendo 152.977,52 ha de algodão
safra, com plantio em dezembro, e 1.032.756,20 ha na segunda safra,
estabelecida em janeiro.
Na Bahia, até o momento, foram
colhidos 94% do algodão cultivado em 308.987 hectares, entre sequeiro (258,4
mil ha) e irrigado (50,5 mil ha), área 15% maior que na safra passada. A média
de produtividade geral está em 274,3@/ha.
Para efeito comparativo, em 2020
no mês de agosto, a média de produtividade da Bahia foi de 311,3 @/ha e, em
2021, foi de 310,6 @/ha. As informações são da Abapa – Associação Baiana dos
Produtores de Algodão.