25 jul, 2023
Nematoide está presente no
sistema de produção e seu complexo manejo no algodoeiro é um dos motivos para a
cultura ser substituída pelo milho em grandes áreas. Pesquisa da Fundação MT na
Serra da Petrovina, ao longo de três anos, contribui com resultados de práticas
integradas para prevenção ou redução da população do parasita
O nematoide reniforme (Rotylenchulus
reniformis) é considerado hoje o de maior problema para a cultura do
algodão. Em Mato Grosso, a sua distribuição tem se tornado importante nas áreas
produtoras do Sul do Estado, como Serra da Petrovina, no município de Pedra
Preta, ainda em Campo Verde e Primavera do Leste. Produtores da pluma e
sementeiros encontram dificuldades até mesmo na sucessão com a soja, já que
esta reproduz primeiro o parasita e deixa uma herança populacional para o
algodoeiro. Uma das alternativas tem sido substituir o algodão pelo milho na
segunda safra, mas há outras possíveis, desde que feitas de maneira integrada.
A Fundação de Apoio à Pesquisa
Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), por meio da sua área de conhecimento
em Nematologia e junto com sementeiros, avalia há várias safras diferentes
estratégias de manejo que contribuam para reduzir a infestação de R.
reniformis no sistema de produção. Um dos experimentos está instalado
na Serra da Petrovina, há três safras, em uma área de três hectares de algodão
de longo prazo, onde o problema já existia.
A nematologista e pesquisadora
da instituição, Rosangela Silva, à frente do trabalho, explica que um dos
principais pontos negativos da espécie é o de não existir hoje cultivar de soja
de ciclo curto ou de algodão com resistência. “É um nematoide de difícil
manejo, não tem cultivar de soja ou algodão que seja resistente, a planta de
soja nem morre e já vem algodão na sequência, então multiplica. E o reniforme,
na ausência da planta hospedeira, sobrevive por 180 dias”, completa.
Além da capacidade de
sobrevivência, esse é um nematoide que não causa sintomas visíveis nas raízes
das plantas de algodão e a clorose foliar também não é comum, o que contribui
para que sua presença seja menosprezada na lavoura. “Somente com população alta
é possível visualizar folhas carijós, porém, até 80 dias após a emergência,
depois disso a folha cai e não se vê mais”, coloca Rosangela.
As plantas infectadas com R.
reniformis são tipicamente subdesenvolvidas e menores que as plantas
normais. No algodão, as cultivares suscetíveis podem sofrer decréscimo de
produtividade variando de 60,6% a mais de 74% em áreas de altas infestações, de
acordo com estudos da Fundação MT.
Problema antigo
No Grupo Bom Jesus, que
normalmente utiliza cinco mil hectares na Serra da Petrovina para o plantio de
algodão, o nematoide reniforme também é considerado o mais prejudicial. “Há
anos que em algodão é o mais grave, nem chega perto de nematoide de cisto na soja”,
conta Daiane Cristina Flávio, coordenadora técnica regional. Ela acrescenta que
a percepção da espécie nas áreas do Grupo foi em 2004 e que se tornou mais
generalizada em 2010. "Está se expandindo em Campo Verde e Primavera do
Leste. Na região do Médio-Norte, em Campos de Júlio (Parecis) e na Bahia temos
um pouco menos, mas já há relatos”, completa.
A profissional explica que uma
das estratégias da companhia tem sido rotacionar a soja com milho, alternando
com soja-algodão. Também relata que como não há cultivar resistente, a opção é
sempre escolher materiais com sistema radicular mais agressivo para áreas mais
problemáticas, na tentativa de que sofram um pouco menos. “Também usamos
produtos biológicos nas três culturas, soja, milho e algodão, percebemos que
vem agregando”, diz.
Resultados da Fundação MT
Para o ensaio na Serra da
Petrovina, a instituição utiliza cultivar de soja resistente ao nematoide de
cisto (Heterodera glycines) em uma parte e cultivar de soja sem
resistência a essa espécie em outra. Isso porque a resistência a cisto também
contribui com a redução da população de Rotylenchulus, apesar de
ainda assim deixar o parasita na área.
Além da escolha dos materiais
genéticos, são utilizadas duas ferramentas biológicas de fungos e bactérias em
consórcio, e uma química. Rosangela detalha que há poucas opções no mercado
para ambas as abordagens. “Hoje temos 57 produtos biológicos para nematoides,
mas apenas dois para Rotylenchulus, e poucos químicos também para a
espécie”, pontua.
Nesta safra, a parcela de
cultivar resistente do ensaio está com 40 centímetros a mais de desenvolvimento
(com relação à suscetível), além de diferenças positivas no fechamento das
linhas, na carga, no desenvolvimento das plantas e com a população de reniforme
menor. “Estamos vendo o quanto é importante usar a cultivar certa, fazer essa
escolha pensando no nematoide, e agregar as ferramentas químicas e biológicas.
Isso está bem claro nas parcelas”, destaca a nematologista. Os resultados
finais serão analisados com a colheita e apresentados no Encontro Técnico de
Algodão da instituição em agosto.
Sobre a estratégia de rotacionar
a soja com milho por uma ou mais safras, as pesquisas mostram que sim, é uma
boa opção, mas que a redução da população vai depender da quantidade presente
na área (em torno de 300 nematoides no momento do plantio de algodão já são
suficientes para causar danos em alguma cultivar). “Às vezes é importante fazer
uma safra de milho, mas é preciso avaliar bem qual a soja na sequência porque
dependendo qual se escolhe, o produtor aumenta a população do reniforme por
mais que tenha entrado com milho. E lembrando sempre de agregar nematicidas
químicos e biológicos para aumentar a produtividade”, alerta.
Há mais práticas possíveis,
segundo a pesquisadora, para se conseguir maior eficiência no manejo de R.
reniformis, até mesmo usadas de forma preventiva. Recomenda-se o cultivo de
plantas antagonistas, além do milho, adoção de culturas de cobertura e rotação,
e as demais já citadas, fazendo dessa forma uma integração entre todas elas.
Da pesquisa para a prática
O ensaio da Fundação MT na Serra
da Petrovina é acompanhado de perto pelas empresas sementeiras da região. Os
resultados são apresentados in loco para que os técnicos
responsáveis possam avaliar as plantas e os resultados. “Estiveram conosco
agora em junho e todos gostaram muito. Vão na área, avaliam os resultados, dão
nota para as parcelas. A ideia é ter a pesquisa em pequena escala, eles avaliam
e depois replicam para as áreas deles”, conta Rosangela.
A coordenadora do Grupo Bom
Jesus destaca que alguns conceitos da pesquisa já são aplicados e estão
oferecendo resultados satisfatórios nas áreas de algodão da empresa.
“Participamos das avaliações, observamos o que tem de destaque nas pesquisas e
implantamos, adaptamos. Estamos fazendo biológicos em sulco e eventualmente um
químico, assim como o protocolo da Fundação MT. As empresas de pesquisa trazem
muita coisa que não conseguimos desenvolver sozinhos ao longo da safra, são
testes em várias regiões, várias safras, tem toda essa variabilidade”, destaca.
A profissional também comenta
sobre a necessidade de material genético que contribua no manejo do nematoide.
“Cobramos das detentoras o desenvolvimento de cultivares de soja com baixo
fator de reprodução do nematoide, visto que são poucas as opções em mercado
hoje que proporcionam ciclo para algodão safrinha”, pontua Daiane.
Essa será uma das
temáticas do nosso XV Encontro Técnico Algodão, que será realizado entre os
dias 28 a 30 de agosto, no Hotel Gran Odara em Cuiabá, o evento tem como
objetivo disseminar dados de pesquisas, apresentar posicionamento da Fundação
MT, e promover diálogos sobre os gargalos da cotonicultura.
Inscreva-se e participe
conosco: https://bit.ly/encontro-tecnico-algodao